tag:blogger.com,1999:blog-5040252623220069672024-03-14T00:22:49.912-07:00Café com pãoEntre para tomar um café com pão e participe dessa felicidade clandestina. Pois agora é a hora da estrela, aproveite para dançar uma quadrilha e no meio do caminho veremos as sete faces da vida. No final, José nos mostrará as verdades e poderemos ir embora pra Pasárgada e sermos amigos do rei. Este blog tem a finalidade de proporcionar leituras agradáveis e discussões sobre leitura e escrita. Ele foi elaborado como parte do curso EAD "melhor gestão, melhor ensino".Denise Limahttp://www.blogger.com/profile/01289682381512659425noreply@blogger.comBlogger11125tag:blogger.com,1999:blog-504025262322006967.post-4531728472601769092014-09-01T21:05:00.001-07:002014-09-01T21:29:02.394-07:00Dicas: como montar um projeto?<a href="http://escoladoaprender.blogspot.com.br/2012/04/dicas-como-montar-um-projeto.html#.VAVB0zMEc4c.blogger">Dicas: como montar um projeto?</a>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/04991980536030292329noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-504025262322006967.post-76052817042736614842013-06-22T19:55:00.000-07:002013-06-22T19:55:47.277-07:00 Elaborei uma sequência didática através de um texto que apliquei, no início de Junho para as minhas turmas de 6o ano.
O texto chama-se: O homem nu - do escritor Fernando Sabino.
Distribui uma cópia do texto para cada aluno e pedi para eles lerem em silêncio;
Após a leitura perguntei a eles o que acharam do texto, se entenderam , se acharam o texto divertido;
Depois perguntei a eles o que entendiam sobre situação inusitada, qual a compreensão que eles tinham deste vocábulo;
Após estes comentários eu propus uma releitura em voz alta pelos alunos ;
Expliquei a eles o que é um Conto e o que é uma Crônica;
Foi explicado a eles que o texto: O homem Nu , tratava-se de um conto;
Propus aos alunos atividades de Interpretação e de uso do Vocabulário;
Foi proposto exercícios de gramática , focando: verbos e classificação do sujeito.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/04991980536030292329noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-504025262322006967.post-10835782865505880892013-06-14T08:18:00.000-07:002013-06-14T08:18:07.912-07:00 Um comentário sobre : Letramento e capacidades de leitura para a cidadania. ( Roxane Rojo)<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
"Ler é melhor que estudar". Esta frase é de Ziraldo. A escolarização, no caso , da sociedade brasileira, não leva à formação de leitores e produtores de textos proficientes e eficazes e,às vezes, chega mesmo a impedi-la. Ler continua sendo coisa das elites, no início de um novo milênio.</div>
<div style="text-align: justify;">
A leitura escolar atual é voltada para cumprir tarefas, orquestrada por currículos. Mas a leitura é mais do que isso. É ler o mundo e construir sentidos a partir disso.</div>
<div style="text-align: justify;">
A leitura nas escolas tem de ser desafiante para os alunos; tem de mexer com os seus sentidos. É construir e desconstruir ideias por meio do que se lê. </div>
<div style="text-align: justify;">
"Ser letrado é ler na vida e na cidadania..." É ler os textos atribuindo a própria interpretação, inferindo e contextualizando. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
Comentário escrito por Diovana F. Rodrigues.</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/04991980536030292329noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-504025262322006967.post-87992909858515659122013-06-11T19:45:00.001-07:002013-06-11T19:45:28.272-07:00Oi, pessoal estou neste blog para aprender , trabalhar e difundir esta nova ferramenta digital. Se as colegas quiserem podem publicar seus comentários num blog que eu tenho. O meu blog é: divavisiona.blogs pot.com/ > Eu sei que temos que postar nossas atividades no blog da Denise. Denise me desculpe se eu não postei nada . É porque eu não estava conseguindo. Vamos ver se este comentário saiu no seu blog.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/04991980536030292329noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-504025262322006967.post-331119281532106242013-06-04T06:53:00.001-07:002013-06-04T06:53:19.715-07:00Vou-me embora pra Pasárgada <span style="font-size: large;"><b>Vou-me embora pra Pasárgada</b> </span><br /><br /><i>Manuel Bandeira</i><div>
<br />Vou-me embora pra Pasárgada <br />Lá sou amigo do rei <br />Lá tenho a mulher que eu quero <br />Na cama que escolherei <br />Vou-me embora pra Pasárgada <br /><br />Vou-me embora pra Pasárgada <br />Aqui eu não sou feliz <br />Lá a existência é uma aventura <br />De tal modo inconseqüente <br />Que Joana a Louca da Espanha <br />Rainha e falsa demente <br />Vem a ser contraparente <br />Da nora que nunca tive <br /><br />E como farei ginástica <br />Andarei de bicicleta <br />Montarei em burro brabo <br />Subirei no pau-de-sebo <br />Tomarei banhos de mar! <br />E quando estiver cansado <br />Deito na beira do rio <br />Mando chamar a mãe-d`água <br />Pra me contar as histórias <br />Que no tempo de eu menino <br />Rosa vinha me contar <br />Vou-me embora pra Pasárgada <br /><br />Em Pasárgada tem tudo <br />É outra civilização <br />Tem um processo seguro <br />De impedir a concepção <br />Tem telefone automático <br />Tem alcalóide à vontade <br />Tem prostitutas bonitas <br />Para a gente namorar <br /><br />E quando eu estiver mais triste <br />Mas triste de não ter jeito <br />Quando de noite me der <br />Vontade de me matar <br />-Lá sou amigo do rei- <br />Terei a mulher que eu quero <br />Na cama que escolherei <br />Vou-me embora pra Pasárgada. <br /><br />(Estrela da vida inteira, cit., p. 127-8.) </div>
Denise Limahttp://www.blogger.com/profile/01289682381512659425noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-504025262322006967.post-20807197624149478972013-06-04T06:49:00.001-07:002013-06-04T06:51:45.369-07:00JoséJOSÉ<br />
<div>
<br /></div>
<div>
Carlos Drummond de Andrade<br />
<br />
E agora, José?<br />
A festa acabou,<br />
a luz apagou,<br />
o povo sumiu,<br />
a noite esfriou,<br />
e agora, José?<br />
e agora, Você?<br />
Você que é sem nome,<br />
que zomba dos outros,<br />
Você que faz versos,<br />
que ama, protesta?<br />
e agora, José?<br />
<br />
Está sem mulher,<br />
está sem discurso,<br />
está sem carinho,<br />
já não pode beber,<br />
já não pode fumar,<br />
cuspir já não pode,<br />
a noite esfriou,<br />
o dia não veio,<br />
o bonde não veio,<br />
o riso não veio,<br />
não veio a utopia<br />
e tudo acabou<br />
e tudo fugiu<br />
e tudo mofou,<br />
e agora, José?<br />
<br />
E agora, José?<br />
sua doce palavra,<br />
seu instante de febre,<br />
sua gula e jejum,<br />
sua biblioteca,<br />
sua lavra de ouro,<br />
seu terno de vidro,<br />
sua incoerência,<br />
seu ódio, - e agora?<br />
<br />
Com a chave na mão <br />
quer abrir a porta,<br />
não existe porta;<br />
quer morrer no mar,<br />
mas o mar secou;<br />
quer ir para Minas,<br />
Minas não há mais.<br />
José, e agora?<br />
<br />
Se você gritasse,<br />
se você gemesse,<br />
se você tocasse,<br />
a valsa vienense,<br />
se você dormisse,<br />
se você cansasse,<br />
se você morresse...<br />
Mas você não morre,<br />
você é duro, José!<br />
<br />
Sozinho no escuro<br />
qual bicho-do-mato,<br />
sem teogonia,<br />
sem parede nua<br />
para se encostar,<br />
sem cavalo preto<br />
que fuja do galope,<br />
você marcha, José!<br />
José, para onde?<br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /></div>
Denise Limahttp://www.blogger.com/profile/01289682381512659425noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-504025262322006967.post-37169262717979905692013-06-04T06:45:00.000-07:002013-06-04T06:45:05.424-07:00Poema de sete faces<b><span style="font-size: large;">Poema de sete faces</span></b><div>
<span style="font-size: large;"><b><br /></b></span></div>
<div>
<i>Carlos Drummond de Andrade</i><br /><br />Quando nasci, um anjo torto<br />desses que vivem na sombra<br />disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.<br /><br />As casas espiam os homens<br />que correm atrás de mulheres.<br />A tarde talvez fosse azul,<br />não houvesse tantos desejos.<br /><br />O bonde passa cheio de pernas:<br />pernas brancas pretas amarelas.<br />Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.<br />Porém meus olhos<br />não perguntam nada.<br /><br />O homem atrás do bigode<br />é sério, simples e forte.<br />Quase não conversa.<br />Tem poucos, raros amigos<br />o homem atrás dos óculos e do bigode.<br /><br />Meu Deus, por que me abandonaste<br />se sabias que eu não era Deus,<br />se sabias que eu era fraco.<br /><br />Mundo mundo vasto mundo<br />se eu me chamasse Raimundo<br />seria uma rima, não seria uma solução.<br />Mundo mundo vasto mundo,<br />mais vasto é meu coração.<br /><br />Eu não devia te dizer<br />mas essa lua<br />mas esse conhaque<br />botam a gente comovido como o diabo.</div>
Denise Limahttp://www.blogger.com/profile/01289682381512659425noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-504025262322006967.post-67706536305296821332013-06-04T06:38:00.001-07:002013-06-04T06:42:13.961-07:00Quadrilha<br />
<b>Quadrilha</b><br />
<br />
<i>Carlos Drummond de Andrade</i><br />
<br />
João amava Teresa que amava Raimundo<br />
<br />
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili<br />
<br />
que não amava ninguém.<br />
<br />
João foi para o Estados Unidos, Teresa para o<br />
<br />
convento,<br />
<br />
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,<br />
<br />
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto<br />
<br />
Fernandes<br />
<br />
que não tinha entrado na história.Denise Limahttp://www.blogger.com/profile/01289682381512659425noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-504025262322006967.post-33573894574862257562013-06-04T06:37:00.000-07:002013-06-04T06:42:02.319-07:00A Hora da Estrela<br />
<br />
<b>A Hora da Estrela</b><br />
<br />
... já que sou, o jeito é ser.<br />
Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta, continuarei a escrever. (...) Pensar é um ato. Sentir é um fato.<br />
<br />
(...)Mas a pessoa de quem falarei mal tem corpo para vender, ninguém a quer, ela é virgem e inócua, não faz falta a ninguém. Aliás - descubro eu agora - também não faço a menor falta, e até o que eu escrevo um outro escreveria. Um outro escritor sim, mas teria que ser homem porque escritora mulher pode lacrimejar piegas.<br />
<br />
Escrevo neste instante com prévio pudor por vos estar invadindo com tal narrativa tão exterior e explícita. De onde no entanto até sangue arfante de tão vivo de vida poderá quem sabe escorrer e coagular em cubos de geléia trêmula. Será essa história um dia o meu coágulo? Que sei eu. Se há veracidade nela - e é claro que a história é verdadeira embora inventada - que cada um reconheça em si mesmo porque todos nós somos um e quem não tem pobreza de dinheiro tem pobreza de espíirito ou saudade por lhe faltar coisa mais preciosa do que ouro - existe a quem falte o delicado essencial. (...)<br />
<br />
Proponho-me a que não seja complexo o que escreverei, embora seja obrigado a usar as palavras que vos sustentam. A história - determino com falso livre arbítrio - vai ter uns sete personagens e eu sou um dos mais importantes deles, é claro. Eu, Rodrigo S. M. Relato antigo, este, pois não quero ser modernoso e inventar modismos à guisa de originalidade. Assim é que experimentarei contra os meus hábitos uma história com começo, meio e 'gran finale' seguido de silêncio e chuva caindo.(...)<br />
<br />
<br />
(...) Ela nascera com maus antecedentes e agora parecia uma filha de não-sei-o-quê com ar de se desculpar por ocupar espaço. No espelho distraidamente examinou as manchas do rosto. Em Alagoas chamavam-se 'panos', diziam que vinham do fígado. Disfarçava os panos com grossa camada de pó branco e se ficava meio caiada era melhor que o pardacento. Ela toda era um pouco encardida pois raramente se lavava. De dia usava saia e blusa, de noite dormia de combinação. Uma colega de quarto não sabia como avisar-lhe que seu cheiro era murrinhento. E como não sabia, ficou por isso mesmo, pois tinha medo de ofendê-la. Nada nela era iridescente, embora a pele do rosto entre as manchas tivesse um leve brilho de opala. Mas não importava. Ninguém olhava para ela na rua, ela era café frio.<br />
<br />
Assoava o nariz na barra da combinação. Não tinha aquela coisa delicada que se chama encanto. Só eu a vejo encantadora. Só eu, seu autor, a amo. Sofro por ela.<br />
<br />
Então - ali deitada - teve uma úmida felicidade suprema, pois ela nascera para o abraço da morte. (...) E havia certa sensualidade no modo como se encolhera. Ou é como a pré-morte se parece com a intensa ânsia sensual? É que o rosto dela lembrava um esgar de desejo. (...)<br />
<br />
Se iria morrer, na morte passava de virgem a mulher. Não, não era morte pois não a quero para a moça: só um atropelamento que não significava sequer um desastre. Seu esforço de viver parecia uma coisa que se nunca experimentara, virgem que era, ao menos intuíra, pois só agora entendia que mulher nasce mulher desde o primeiro vagido. O destino de uma mulher é ser mulher. Intuíra o instante quase dolorido e esfuziante do desmaio do amor. Sim, doloroso reflorescimento tão difícil que ela empregava nele o corpo e a outra coisa que vós chamais de alma. (...)<br />
<br />
Nesta hora exata, Macabéa sente um fundo enjôo de estômago e quase vomitou, queria vomitar o que não é corpo, vomitar algo luminoso. Estrela de mil pontas.<br />
<br />
O que é que eu estou vendo agora é e que me assusta? Vejo que ela vomitou um pouco de sangue, vasto espasmo, enfim o âmago tocando no âmago: vitória!<br />
<br />
E então - então o súbito grito estertorado de uma gaivota, de repente a águia voraz erguendo para os altos ares a ovelha tenra, o macio gato estraçalhando um rato sujo e qualquer, a vida come a vida.<br />
<br />
(...) O instante é aquele átimo de tempo em que o pneu do carro correndo em alta velocidade toca no chão e depois não toca mais e depois toca de novo. Etc. , etc., etc. No fundo ela não passara de uma caixinha de música meio desafinada. Eu vos pergunto: <br />
- Qual é o peso da luz? <br />
<br />
<br />
E agora - agora só me resta acender um cigarro e ir para casa. Meu Deus, só agora me lembrei que a gente morre. Mas - mas eu também?! Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos. <br />
<br />
<br />
Enfim, descobrimos, agora, que tudo começa e acaba com um sim. Também é preciso coragem para morrer, silêncio para ouvir o grito da vida.<br />
<br />
Trechos extraídos do livro "A Hora da Estrêla" de Clarice LispectorDenise Limahttp://www.blogger.com/profile/01289682381512659425noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-504025262322006967.post-30951316562996777042013-06-04T06:29:00.001-07:002013-06-04T06:41:49.208-07:00Felicidade clandestina<br />
<b>Felicidade clandestina - Clarice Lispector</b><br />
<br />
<i>Clarice Lispector<br />O Primeiro Beijo<br />São Paulo, Ed. Ática, 1996</i><br />
<br />
<br />
Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme; enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.<br />
<br />
Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como "data natalícia" e "saudade".<br />
<br />
Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.<br />
<br />
Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.<br />
<br />
Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.<br />
<br />
Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.<br />
<br />
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.<br />
<br />
Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do "dia seguinte" com ela ia se repetir com meu coração batendo.<br />
<br />
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.<br />
<br />
Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.<br />
<br />
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!<br />
<br />
E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: "E você fica com o livro por quanto tempo quiser." Entendem? Valia mais do que me dar o livro: "pelo tempo que eu quisesse" é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.<br />
<br />
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.<br />
<br />
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar… Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.<br />
<br />
Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.<br />
<br />
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.Denise Limahttp://www.blogger.com/profile/01289682381512659425noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-504025262322006967.post-72991953212582142202013-06-02T13:45:00.000-07:002013-06-04T06:41:24.058-07:00Café com pão<span style="font-size: large;"><b>TREM DE FERRO</b></span><br />
<b><span style="font-size: x-small;"><i><br /></i></span></b>
<b><span style="font-size: x-small;"><i> MANUEL BANDEIRA</i></span></b><br />
<br />
<br />
Café com pão<br />
Café com pão<br />
Café com pão<br />
Virgem Maria que foi isto maquinista?<br />
<br />
Agora sim<br />
Café com pão<br />
Agora sim<br />
Café com pão<br />
<br />
Voa, fumaça<br />
Corre, cerca<br />
Ai seu foguista<br />
Bota fogo<br />
Na fornalha<br />
Que eu preciso<br />
Muita força<br />
Muita força<br />
Muita força<br />
<br />
Oô..<br />
Foge, bicho<br />
Foge, povo<br />
Passa ponte<br />
Passa poste<br />
Passa pasto<br />
Passa boi<br />
Passa boiada<br />
Passa galho<br />
De ingazeira<br />
Debruçada<br />
Que vontade<br />
De cantar!<br />
<br />
Oô…<br />
Quando me prendero<br />
No canaviá<br />
Cada pé de cana<br />
Era um oficia<br />
Ôo…<br />
Menina bonita<br />
Do vestido verde<br />
Me dá tua boca<br />
Pra matá minha sede<br />
<br />
Ôo…<br />
Vou mimbora voou mimbora<br />
Não gosto daqui<br />
Nasci no sertão<br />
Sou de Ouricuri<br />
Ôo…<br />
<br />
Vou depressa<br />
Vou correndo<br />
Vou na toda<br />
Que só levo<br />
Pouca gente<br />
Pouca gente<br />
Pouca gente…Denise Limahttp://www.blogger.com/profile/01289682381512659425noreply@blogger.com0